O mundo, como conhecemos, vem passando por grandes e rápidas transformações em função da globalização e da expansão tecnológica. Tais mudanças têm afetado significativamente os processos industriais, o mundo laboral e o dos trabalhadores. A indústria gráfica, por exemplo, é um desses setores que sofrem com as alterações abruptas. Cada vez mais consolidam-se processos digitais de comunicação em negação (ou redução) ao tradicional mecanismo de impressão no papel. Com isso, tem-se reduzido os empregos nas tradicionais indústrias gráficas, bem como há alterações em muitas rotinas produtivas nos postos de trabalho que se mantém. O cenário aumenta os desafios dos trabalhadores e da organização sindical na defesa dos direitos desses empregados.
Uma constatação deste desafio pode ser observado no crescimento das empresas de impressão chamadas de “gráficas rápidas” e digitais. Elas, apesar de continuarem com o processo de impressão, não consideram seus empregados como sendo do segmento gráfico, excluindo-os dos direitos pertinentes à categoria, ou classificando-os diferenciadamente.
Estas e outras situações diante das transformações atuais no mundo, que têm provocado maiores desafios à organização sindical, cujos demandam o necessário e inovador protagonismo maior do movimento sindical, foram registradas na entrevista da equipe de comunicação da CONATIG com Marvin Largaespada, diretor regional da UNI Gráficos e Embalagens Américas Sindicato Global – segmento gráfico do braço continental das Américas da UNI Global (órgão intersindical planetário). Confira a entrevista completa do sindicalista internacional, que começou como ajudante de tipógrafo nas gráficas do seu pequeno e agrícola país de origem, que é a Nicarágua, na América Central, e hoje dedica a vida para o fortalecimento dos trabalhadores gráficos em todas as Américas.
CONATIG – Quem é Marvin e qual sua ligação com a CONATIG ?
MARVIN – Marvin é um sindicalista gráfico nicaraguense de 51 anos. Começou na profissão aos 20 anos. Iniciou como auxiliar de tipógrafo e depois vou para o setor de desenho gráfico. Com perfil de não aceitar injustiças, logo se aproximou da organização sindical. Em poucos anos, estava na direção da Federação Nacional dos Trabalhadores Gráficos do seu país. Chegou a assumir inclusive a secretária geral da entidade, cargo mais importante depois da Presidência. Neste processo, foi um relevante ator na fundação e na consolidação da UNI Global Gráficos e Embalagens nas Américas – entidade que reúne o segmento gráfico nos países em todas as Américas (Sul, Central e Norte). Dentro da UNI deste 2000, ano em que a entidade intersindical foi criada, Marvin tem contribuído para a união, articulação e organização dos trabalhadores em torno do fortalecimento do movimento sindical, inclusive no Brasil através da participação junto à Confederação Nacional Gráficos (CONATIG). Ao longo desses 15 anos, os trabalhadores gráficos contam com o apoio e a participação de Marvin Largaespada nas atividades e eventos nacionais e internacionais em conjunto com a CONATIG. Na verdade, a contribuição de Marvin junto aos gráficos brasileiros é mais antiga. A sua colaboração, juntamente com Adriana Rosenzvaig – atual secretária regional da UNI Américas – remonta ao período da fundação da CONATIG (em 1993). Antes disso, Marvin junto com Leonardo Del Roy, presidente da Confederação dos Gráficos do Brasil, com Adriana e com mais sindicalistas gráficos de sete países do continente americano, fundaram a Federação Gráfica Latino-americana em 1991 – que venho a se tornar depois, guardados todos detalhes, a UNI Américas e Gráficos.
Qual o evento mais recente que a UNI apoiou os gráficos do Brasil?
Este ano já foram alguns. O mais recente aconteceu na última semana em São Paulo, nos dias 10 e 11, na Federação Paulista dos Gráficos. A UNI Gráficos e Embalagens Américas patrocinou a realização de um seminário de formação sobre negociação salário para sindicalistas de vários estados brasileiros. A negociação coletiva é fundamental para a vida do trabalhador, porque definirá o valor do salário e os direitos dele na Convenção Coletiva de Trabalho da categoria nos estados e regiões do Brasil, onde estão organizados em torno das entidades sindicais.
Quais os principais desafios no mundo laboral?
Primeiro é bom lembrar que o movimento sindical continua tento o papel de sempre: de proteger o trabalhador contra a opressão e as injustiças geradas pela iniciativa dos empresários de acumular riquezas de modo desumano através da exploração pelo meio de produção. O problema atual é que a exploração está ainda mais acentuada devido às rápidas transformações com a hegemonia da lógica do capitalismo planetário frente à plena globalização e seus incrementos tecnológicos sobretudo os derivados da eletrônica e da informática. O reflexo disso é direto no mundo laboral e na vida de cada um trabalhador. Os postos de trabalho estão diminuindo e a produção está aumentando pelo uso da tecnologia. Tem-se alterado até os processos produtivos e assim as respectivas culturas operárias de cada uma das classes. O cenário tem estimulado o enfraquecimento do movimento sindical, pois ainda está atordoado com tremenda transformação. Com isso, aumenta a insatisfação da própria classe trabalhadora com os sindicatos. Há, às vezes, até a aversão dos trabalhadores pelos sindicatos, sobretudo os mais jovens e as mulheres. Tudo isso, é claro, estimulado e promovido pelos setores patronais, que são os únicos interessados em reduzir custos com folha de pagamento.
Qual o papel do sindicalismo diante dessa difícil situação?
A situação exige ao movimento sindical uma ativa reformulação para buscar novas estratégias de continuar defendendo os trabalhadores no “mundo novo”. Uma delas é a junção entre categorias profissionais que têm características comuns ou parecidas. A união sempre fará a força. Também é preciso estimular a participação dos trabalhadores jovens e mulheres na vida sindical, pois estes são os maios explorados no mundo laboral. É preciso ainda criar ou ampliar instrumentos de comunicação junto da base sindical, entre outras. Não existem fórmulas mágicas. No entanto, o fato é que os sindicatos serão marginalizados pela classe trabalhadora se não se atualizarem frente a esta nova “ordem mundial” do capitalismo, tecnologia e da informática no mundo laboral. E, se isso se generalizar, acaba também a esperança e alguma qualidade de vida dos trabalhadores neste novo mundo em profundas transformações.